Os pais e o país pagaram milhões de euros para estes jovens se formarem e agora que estão prontos a produzir e a descontar para os impostos e para a segurança social vão ter que emigrar e ir trabalhar algures fora do país. Não deverão ter dificuldade dada a alta formação que atingiram. Porém, ainda há quem nos diga que os portugueses têm poucos filhos(?) É este o futuro que o país pode oferecer aos seus filhos?
Os Europeus têm sido severamente criticados pela sua fraca natalidade sem se ter sequer em linha de conta as reduzidas perspectivas de vida para as gerações que estão chegando à idade adulta, por exemplo em Portugal, e para as quais não há empregos disponíveis. Para além disso, os governos em vez de facilitarem o problema, aprofundam-no ao aumentar o número de horas de trabalho e ao dificultar a saída dos mais velhos para um merecido descanso depois de décadas de contribuições para os sistemas de pensões, inclusivé por desemprego prolongado ou por doença; ao generalizarem o emprego precário também não estão a dar confiança aos jovens para que possam casar e ter uma vida independente dos seus progenitores. Os empregos precários, bem como o recurso ao trabalho extraordinário deveria ser restringido e desincentivado, aumentando a contribuição patronal para a Segurança Social, que está em decadência. Infelizmente, faz-se o contrário e incentiva-se mesmo o trabalho precário.
Com a crescente automatização, a intervenção humana é cada vez menos necessária e porque não há uma maior redistribuição da riqueza produzida, o desemprego só poderá aumentar continuamente. O neoliberalismo e a "globalização selvagem" também não são alheios à nova realidade, porque põem em competição países cujos salários são de 30/40 € por mês com os que se praticam na Europa. E esse montante nem chega para pagar as despesas fixas de uma habitação modesta. Os europeus só irão abrir os olhos quando forem atingidos pelo caos e os seus governos quando as "joias da coroa" começarem a ser atingidas, como: a indústria química, automóvel, naval, aeronática e militar de ponta. Quando isso acontecer será tarde, os cidadãos europeus irão então recordar os políticos corruptos que elegeram e que cederam aos interesses das multinacionais ocidentais que apenas viram lucros chorudos e fáceis a curto prazo.
Mas, pelo menos, com a chegada de milhões de crianças e jovens à UE, fogidos da guerra, não há motivo para continuarem o habitual discurso de que FAZEM FALTA CRIANÇAS PARA SUBSTITUIR OS MAIS IDOSOS NOS SEUS LOCAIS DE TRABALHO NUM FUTUTO PRÓXIMO: Abram simplesmente as portas e aceitem essas crianças e jovens que já muito sofreram para chegar até nós; ou CALEM-SE. Se os governos europeus continuarem a insistir na sua retórica costumeira só irão convencer os mais idiotas. Esse foi um discurso idealizado para retirar todos os direitos sociais aos europeus e para os nivelarem com os do extremo oriente onde esse custo não existe.
Não garanto é que, no caso de Portugal, quando esses jovens estiverem formados, prontos a produzir riqueza, a descontar, por exemplo para a Segurança Social, e a ter filhos, não acabem por ir-se embora à semelhança do que está a acontecer com muitos jovens portugueses por falta de perspetivas de vida em neste país.
Já não é a primeira vez que me refiro a este assunto, mas agora a vaga de migrantes que chegam trazem novidades, o que prova ser FALSO e HIPÓCRITA este argumento, porque:
1.º)Esta sociedade é incapaz de inserir no mercado de trabalho os jovens que vão chegando à idade de trabalhar. Muitos acabam por emigrar depois de largos anos a preparar-se para desempenhar uma função útil e vão ser aproveitados noutros países;
2.º)Estão a chegar milhões de refugiados trazendo com eles centenas de milhares de jovens e crianças. Algumas chegam até sozinhas;
3.º)Muitos dos países que apontam a fraca natalidade para os problemas futuros da segurança social recusam receber os refugiados;
4.º) Desde sempre os países em que os cidadãos atingiram melhor nível de vida têm uma maior percentagem de imigrantes.
Este argumento é usado única e simplesmente para justificar a eliminação de direitos sociais, onde se inclui a proteção na doença.
Nas sociedades menos desenvolvidas a natalidade é muito alta enquanto que nas mais desenvolvidas se passa o contrário, é baixa, mas a população dos países mais desenvolvidos é mantida (ou aumentada) por vagas de imigrantes que chegam constantemente, vindas dos países menos desenvolvidos que não lhes podem oferecer condições de vida dignas para um ser humano. Há emigrantes que fogem de guerras nos países de origem.
Portugal é considerado um país desenvolvido e já recebeu vagas de imigrantes há poucos anos atrás que ajudaram a subir a sua natalidade, porém, com a degradação das condições de vida no país, voltou a ser um país de emigrantes em vez de imigrantes, por isso, ao mesmo tempo que a sua população ativa e em idade de procriar emigra a natalidade reduz-se inevitavelmente.
Existem diferenças muito profundas entre os paises desenvolvidos e não desenvolvidos que afetam a natalidade:
Nos países não desenvolvidos, as crianças não são um grande peso a suportar em termos económicos pelos pais (e pelos países), quando os pais estão ausentes ficam sózinhas ou a cargo de um irmão mais velho ou de familiares, sem necessidade de serem colocadas num infantário, começam rapidamente a ajudar nas tarefas domésticas e depois quando andam na escola, alguns anos, continuam ainda assim a auxiliar nas tarefas domésticas. É normal uma criança de 10 anos tratar dos seus irmãos mais novos. Quando retornam a casa, vindos da escola, fazem-no pelos seus próprios meios e se não têm nada mais que fazer ficam simplesmente a brincar na rua. Essas crianças não têm brinquedos caros, os livros de estudo são poucos e passam de uns para outros e acabam por não ficar muito caras ao orçamento familiar que é aliás curto. E quando começam a trabalhar, o que acontece cedo, começam a ajudar nas despesas do seu próprio sustento e no das famílias. Como nesses países não existe segurança social, as crianças são consideradas como uma espécie de segurança social para os pais. Tudo isto acontecia em Portugal há 50/60 anos atrás.
Nas sociedades mais desenvolvidas é tudo ao contrário: as crianças são um fardo bastante pesado para a maioria da população e é inadmissível que fiquem sózinhas pelo que desde tenra idade começam a frequentar infantários, enquanto os irmãos mais velhos frequentam a escola por longos anos para atingirem apenas uma escolaridade básica, só ficando aptos para entrar na idade ativa muito tarde. As famílias estão hoje dispersas e os mais idosos pouco ou nada podem contar com a ajuda dos filhos e estão dependentes da Segurança Social.
No caso de Portugal há ainda outro drama: como os jovens não conseguem arranjar um emprego no final dos longos anos de escola, apesar de em muitos casos terem atingido uma formação elevada, não podem pensar em tornar-se independentes dos progenitores, criar uma nova família, arranjar uma casa e muito menos ter filhos, por isso fazem como qualquer animal em cativeiro: sem condições não se reproduzem. Alguns emigram então em busca de um país onde possam realizar os seus sonhos e vão procriar algures fora deste país, porque em sociedades saudáveis as crianças aparecem automaticamente sem necessidades de complicados esquemas de apoio à natalidade. Quanto aos outros jovens que não emigram porque ou não têm formação que lhes permita singrar lá fora ou porque não o desejam, alguns, poucos, acabam por conseguir empregos precários e mal remunerados para um país em que o custo de vida é tão alto, continuando em casa dos pais sem conseguir a sua independência financeira. Ainda assim, alguns desses conseguem criar a sua própria família quando a idade já anda pelos 30 anos, embora não tenham uma solidez económica e financeira que lhes permita pensar em ter uma grande prole porque os rendimentos continuam baixos mas as despesas aumentam sempre, por isso ficam-se por um filho ou dois no máximo. Eis porque a natalidade está tão baixa em Portugal. Não se pode esperar que uma sociedade doente como a nossa, em que as pessoas vêm reduzida a sua qualidade de vida (e a dos seus descendentes) tenha aumentos de natalidade. Foi imoral acabar-se com os abonos de família para a generalidade dos pais portugueses.
Não se pode querer aumentar a natalidade de forma artificial sem melhorar o nível de vida dos portugueses; a não ser que se criem duas estirpes de cidadãos: uma de “obreiros”, mal pagos mas que pagam altos impostos para a outra estirpe, a dos “procriadores”, que recebem altos subsídios mas pagos apenas a quem tem muitos filhos. Uma sociedade assim faz-me lembrar a das abelhas ou das formigas. Já estamos quase lá!
O problema deste país não é a falta de gente que substitua no trabalho as gerações mais idosas (a fraca natalidade), mas a falta de saídas profissionais condignas para as novas gerações que já aí estão prontas para entrar no mercado de trabalho. É um problema atual e não para daqui a 20 anos. Quanto a reprodução dos jovens emigrantes, será fora de Portugal que o irão fazer, nos países para onde emigram.
Os nossos políticos (e meios de comunicação dominados pelo poder) pretendem desviar a atenção dos portugueses, falando-lhes em problemas de "fraca natalidade" para justificar o aumento da idade da reforma, para que morram antes de a atingir, o que irá acontecer no futuro até porque a "Esperança de Vida" vai inevitavelmente reduzir-se em Portugal como resultado da falência do Serviço Nacional de Saúde e da incapacidade monetária dos portugueses poderem pagar os serviços de saúde diretamente com os salários que auferem.
Não esqueço os restantes jovens sem qualificações, mas esses, infelizmente, ninguém os quer porque desemprego já há com fartura tanto lá fora como por cá: não terão futuro, nem hoje nem daqui a 20 anos.
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